Na manhã desta quinta-feira (10), as comunidades refletiram sobre os desafios e as possibilidades da evangelização nas redes sociais
Por: Henrique Cavalheiro – Comunicação do CPP
A manhã do segundo dia, quinta-feira (10), da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base da Prelazia de Tefé, em Alvarães (AM), foi marcada por espiritualidade e escuta atenta. A programação iniciou com a celebração da missa, presidida pelo padre Dário Bossi, assessor da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB, que convidou as comunidades a manterem viva a fé comprometida com a justiça social. Em seguida, foi proposto o tema comum a todos os participantes: “Influenciadores digitais na Igreja Católica”, conduzido por Abilio Ohana. O debate aconteceu de forma leve e participativa, com reflexões profundas sobre os desafios e possibilidades do anúncio do Evangelho e da missão nas redes sociais. Dinâmicas com músicas e momentos interativos deram ritmo ao encontro, favorecendo o envolvimento coletivo e a partilha de experiências entre os presentes.
Antes do início da atividade formativa da manhã, dom José Altevir dirigiu uma saudação calorosa aos participantes, acolhendo com gratidão todas as comunidades presentes. Em seguida, convidou os povos indígenas da Prelazia de Tefé a subirem ao palco para serem saudados por todos e todas. As lideranças indígenas que tomaram a palavra reforçaram a importância da união dos povos na luta pela demarcação de suas terras, uma pauta importante não apenas para seus modos de vida, mas também para a preservação ambiental, uma vez que vivem em harmonia e equilíbrio com a natureza. O momento foi marcado por aplausos, canto e reverência. Logo após, também foram chamados os representantes das comunidades quilombolas, entre eles integrantes de uma comunidade recém-demarcada. As lideranças quilombolas ressaltaram o valor da ancestralidade e a necessidade de reconhecimento e respeito à sua identidade cultural, reafirmando que a defesa dos territórios tradicionais é parte essencial da missão e da espiritualidade do povo de Deus.
Influência digital, discernimento comunitário e fé encarnada no território
Durante a explanação sobre o tema “Influenciadores digitais na Igreja Católica”, Abilio Ohana destacou a importância de levar às comunidades de base um olhar crítico sobre o papel das figuras públicas nas mídias sociais. Segundo ele, é essencial refletir “os objetivos dessas figuras que fazem influência digital nas mídias, os interesses que estão por trás delas, o cuidado que deve-se ter com as mensagens passadas e com os impactos sobre o território, relacionados tanto a benefícios quanto a prejuízos”, ressaltou Abílio.
Ohana frisou que o debate não deve ser imposto, mas construído coletivamente, respeitando o saber e a vivência de cada comunidade. “Isso tudo deve ser comunicado de uma maneira que as comunidades entendam o que se está dizendo, mas também sejam incluídas na reflexão”, afirmou. Ele ressaltou o papel das próprias lideranças locais, como as que atuam nas pastorais da comunicação, e reforçou a centralidade da juventude: “Você tem pessoas já envolvidas com os processos de comunicação e que podem construir junto com todas as pessoas… com jovens, adolescentes, crianças e idosos”. Para o facilitador, o tema atravessa a fé, mas também toca dimensões concretas do cotidiano: “É uma pauta cristã, católica, religiosa, mas também atravessa todas as outras dimensões da vida das pessoas naquele território”, apontou.
O facilitador também valorizou a construção coletiva do conhecimento, destacando a importância da escuta mútua e da formação de estratégias a partir da realidade local. “Se tem uma desconexão, as pessoas sentem a falta, e se sentem a falta, como trazer de volta, né?”, questionou. Ao citar falas dos participantes da Assembleia, reforçou que as respostas para os desafios da comunicação digital nas comunidades “não estão prontas, mas nós sabemos encontrá-las, e nós temos as ferramentas para isso”. Lembrou ainda que “influenciador digital atende aos interesses de quem o financia” e que é fundamental que as comunidades compreendam quem são os grupos de poder por trás dessas figuras. “Não é um indivíduo solitário”, afirmou. Para Ohana, os conteúdos que circulam nas redes precisam ser analisados coletivamente: “O que eu posso considerar negativo, vocês podem considerar positivo, e vice-versa. O importante é entender o que a comunidade considera”, salientou.
Encerrando sua exposição, Abilio Ohana alertou para os riscos da desinformação e da superficialidade nas redes sociais, ressaltando a necessidade de “ter muito cuidado com as fontes” e de não disseminar ‘fake news’ (notícias falsas). Destacou o perigo de se interpretar ‘likes’ (curtidas) como sinais autênticos de autoridade espiritual. “Quando tem alguém que tenta ser o sinal, que tenta passar a mensagem se dizendo mensageiro de Jesus e recebe muitos likes, todo mundo passa a acreditar naquele falso sinal”, alertou. E completou: “Não é porque aquele influenciador digital tem muitos likes que ele realmente está sendo mensageiro de Jesus, do evangelho, da Igreja”, alertou Abílio.
Ohana chamou atenção para a lógica por trás da popularidade virtual: “Hoje em dia se compra seguidores para parecer muito importante. E quem faz isso? Grandes grupos econômicos que têm dinheiro para promover isso”, denunciou. Por isso, insistiu na urgência de uma reflexão comunitária sobre os conteúdos que circulam e seus impactos no território. “Não tem como conversar no virtual e construir no real”, afirmou, reforçando que as conversas podem até começar nas redes, mas devem continuar no chão da comunidade. Ao finalizar, retomou o desafio central proposto à assembleia: “O que fazer? Lutar contra uma série de negatividades e prejuízos. E o como fazer? É o que a gente está tentando construir juntos”, finalizou.
Tapiris temáticos promovem escuta, partilha e compromisso com a missão nos territórios
Na parte da tarde, os participantes se distribuíram entre os ‘tapiris’ temáticos, espaços de diálogo e aprofundamento que dão continuidade à escuta sinodal da assembleia. Os quatro temas propostos: ecologia integral e casa comum, fraternidade e justiça social, CEBs como barco missionário que inclui todos e todas e desafios e perspectivas em um mundo polarizado, foram debatidos de forma simultânea. Nestes espaços, cada pessoa pôde partilhar vivências e reflexões a partir da realidade de sua comunidade, fortalecendo o compromisso comum de ser Igreja encarnada no território e promotora de relações novas. Os tapiris funcionarão em sistema rotativo, garantindo que todos os participantes tenham a oportunidade de refletir e dialogar sobre cada um dos temas propostos.