Descrição Heráldica do Brasão da Prelazia de Tefé
Autor do Brasão: Dom José Altevir da Silva, CSSp.
Arte: Seabra.
A Heráldica, cuja origem vem da Europa do século XIII, é considerada uma ciência auxiliar da História e uma forma de linguagem simbólica que surgiu para a identificação dos exércitos, de um Estado, de uma corporação, de uma família, e também para expressar identificação eclesiástica (brasão).
Normalmente para a descrição heráldica toma-se por base a utilização de elementos simples, como pede a arte milenar da heráldica, a fim de que a composição fique original, objetiva e legível, mesmo em aplicações pequenas. Optamos por destacar: a cruz, a água, simbolizada por cinco ondas, a imagem de Santa Teresa d’Ávila, o Divino Espírito Santo, a canoa, o remo, o açaí, a mitra, o tipiti, o báculo e as dez estrelas.
A Água: O brasão da Prelazia de Tefé-AM é formado por um escudo cortado ao centro por cinco ondas, que representam os cinco rios principais que permeiam a Prelazia (Solimões, Juruá, Jutaí, Japurá e Tefé).
O Açaí: Na parte superior está a terra com árvores, com destaque para o açaí, que alimenta o nosso povo.
A Pomba do Divino Espírito Santo: Ainda na parte superior está a imagem do céu, donde advém a pomba branca, que representa o Divino Espírito Santo, fazendo alusão à Festa do Divino. Festa esta que é celebrada desde a antiguidade e representa a descida do Espírito Santo à Terra e sua aparição aos apóstolos e à Nossa Senhora. A comemoração integra o calendário cristão dos portugueses e acabou tendo essa tradição trazida para o Brasil no decorrer da colonização. O Novo Testamento diz que o Espírito Santo se manifestou aos apóstolos na forma de fogo. Por isso, as queimas de fogos são tão tradicionais na Festa do Divino. Em nossa querida e grande Amazônia deve-se muito a manifestação de fé dos dias atuais à tradição, à religiosidade popular, sustentada pelas irmandades, pelo povo quilombola e pelos ribeirinhos. Na Prelazia de Tefé, não são poucas as comunidades paroquiais que além do padroeiro, celebram com alegria e tradição a festa do Divino.
A Canoa e o Remo: Estes são dois símbolos ricos de significados para a realidade da Igreja Local de Tefé. A Prelazia, composta por 10 municípios, tem um extenso território (264.669 km²), distribuída ao longo dos rios Solimões, Juruá, Jutaí, Japurá, Lago de Tefé, e muitos afluentes. Não tendo via de acesso terrestre para as Paroquias, a principal forma de locomoção é através dos rios, utilizando-se de barcos (canoas) e remos que conduzem a Igreja na busca de seu objetivo: evangelizar nestes territórios. Os livros que contam sobre a origem da história da evangelização na Prelazia narram como faziam os missionários para transitarem por estes rios; naquele tempo sem barcos a motores, os missionários levavam dias, meses para chegar de um lugar para o outro porque iam de canoa e a remo. Assim, vemos como dois símbolos que foram e continuam sendo de fundamental importância para a evangelização do Povo de Deus, através destes imensos rios e florestas que formam este território.
Santa Teresa de Ávila: Na parte inferior do escudo está ao centro uma lua, completada com a imagem de Santa Teresa de Ávila, padroeira da Prelazia. Teresa de Ávila (1515-1582), com a pena em sua mão, relata de modo intrigante sua relação com as letras: ao mesmo tempo em que a pena é pesada e rouba-lhe o tempo que poderia empregar no Mosteiro de São José, o qual acabara de reformar; também é leve, sendo via de oração e de encontro com o Amado, Deus. A dicotomia existente no ofício das letras é reflexo de um conflito que ultrapassava os desejos e vontades de Teresa e provava sua obediência às autoridades. Padres, confessores, teólogos e filósofos – em sua grande maioria, homens – vasculharam o pensamento da carmelita ainda em vida, na tentativa de examinar cada detalhe de sua experiência mística, em busca de referências demoníacas. A escrita poética, que antes era prazer, tornou-se medo sob o duro olhar da inquisição espanhola (1478), estampado nos escritos em prosa que a monja foi obrigada a escrever, não a partir da visão masculina e inquisitória da época, mas à luz das discussões contemporâneas sobre a literatura feita por mulheres.
As Dez Estrelas: Ao redor da imagem estão dez estrelas, representando os dez municípios que compõem a Prelazia: Tefé, Alvarães, Uarini, Maraã, Japurá, Juruá, Jutaí, Fonte Boa, Carauari e Itamarati. Abaixo do escudo temos um pergaminho em forma horizontal com a inscrição: PRELAZIA DE TEFÉ – 1950. O mesmo está desenhado no formato do Tipiti, uma espécie de prensa, ou espremedor de palha trançada, usado para escorrer e secar a massa da mandioca. Objeto usado principalmente pelos indígenas e ribeirinhos da região Amazônica.
A Cruz: Abaixo da Mitra, bem ao centro, temos uma cruz de madeira. A Cruz representa o caminho para a divindade, a defesa da fé e a árvore da vida. Símbolo máximo do cristianismo, remete à teologia da Igreja e centro de nossa fé: a Paixão e Morte de Cristo, sacrificado por amor infinito a todos nós. O Senhor é o centro – governa e protege a Igreja no amor do Pai pela força do Espírito Santo. Não há cristianismo sem cruz; não há ressurreição sem cruz.
O Báculo: À esquerda da cruz encontra-se um báculo. Báculo, significa bastão, cajado. Em sentido figurado e simbólico passou a indicar “apoio”, pela função de ajuda no caminhar e, sobretudo, “autoridade”, por analogia com a vara ou bastão que o pastor usa para conduzir o seu rebanho. Na Igreja, o báculo é uma insígnia episcopal mais importante do que a mitra, porque é sinal da função pastoral do bispo.
A Mitra: No alto do escudo está a Mitra: insígnia pontifical utilizada pelos prelados da Igreja Católica, da Igreja Ortodoxa e da Igreja Anglicana, sejam eles: abades, bispos, arcebispos, cardeais ou mesmo o Papa. A mitra é a cobertura de cabeça prelatícia de cerimônia.
Grafismo indígena: Na Mitra do brasão da Prelazia, encontra-se um grafismo indígena utilizado pelo povo Kokama, porém, muitas tribos da região do médio Solimões se identificam. Este grafismo simboliza flechas, e são pinturas corporais dos braços e pernas.