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20 de Novembro – Dia da Consciência Negra

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20 de Novembro – Dia da Consciência Negra

Fé e Resistência

 “Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito; tenho ouvido

o seu pedido de socorro por causa dos seus feitores. Sei o que estão sofrendo”.

“Por isso desci para libertá-los… (cf. Ex 3, 7-8).

 

“Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados” (Pr 31,8-9).

A opressão é um sistema de dominação e controle que favorece um grupo em detrimento de outro. Se somos filhos e filhas de Deus, por que tanta submissão? “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Por isso, sigamos as orientações de (Pr.31,8-9), primeiramente descobrindo e ficando ao lado dos “mudos” da História do nosso Brasil, (história esta que já começou desumana) de modo que a justiça seja feita aos pobres e oprimidos.

Nesta data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, basta olhar pelo retrovisor da história, para perceber as marcas da negação da cultura de um povo, dos seus saberes, religiosidade, da beleza da sua alma, da alegria de viver.

20 de novembro, conquista de luta de um povo que sonha por sua liberdade. Ainda hoje, se alguém afirma que o povo negro é livre, pode estar equivocado, pois um dos grandes sonhos que nós temos, é nos libertar da negação de nós mesmos, que nos foi imposta durante toda a nossa história. Aqui faz lembrar o discurso histórico de Martin Luther King, durante a Marcha em Washington por Empregos e Liberdade. Ele dizia: “Eu tenho um sonho que meus quatro filhos pequenos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas por seu caráter”. O povo negro tem um sonho. Qual é o seu sonho? Torna-se muito difícil se alcançar êxito na luta por direitos humanos, enquanto não insistirmos na luta contra a segregação racial. Pois ela é causa da desigualdade social e uma forma radical do racismo.

Foi na luta por liberdade de um povo que no dia 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares, foi brutalmente assassinado na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, na Zona da Mata de Alagoas, tendo seu corpo esquartejado e sua cabeça entregue ao governador Melo de Castro e exposta em praça pública. O Quilombo de Palmares existiu por cerca 200 anos e foram necessárias 18 expedições para destruí-lo, o que acabou acontecendo em 1694, com os bandeirantes Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo.

A insistência em celebrar a memória de Zumbi dos Palmares no dia 20 de novembro foi a resposta dada pelos negros e negras organizados (as) na perspectiva de lembrar que a abolição foi um processo inconcluso e que só seria plenamente completa pela pressão do movimento negro. Então a luta de ZUMBI foi tomada como sinal de resistência e deveria permear as ações do movimento negro em suas diferentes esferas de organização.

A conclusão da obra abolicionista passa pela inclusão plena da população afro-brasileira em todos os espaços de cidadania da nação brasileira. Isto ainda não acontece na sua totalidade devido à discriminação e ao preconceito racial, pecado das pessoas e das instituições cuja face mais perniciosa está refletida na realidade de pobreza e exclusão de boa parte dos afro-brasileiros.

O Dia da Consciência Negra é fruto do processo de amadurecimento do movimento negro que questionou o acento histórico dado ao dia 13 de maio, data que lembra a assinatura da Lei Áurea. Compreende-se que a assinatura da Lei Áurea não trouxe a verdadeira libertação. Apesar da legalidade da alforria viu-se a construção de outras formas de opressão e negação do direito à cidadania aos negros e negras. Os mecanismos de exclusão continuaram assumindo facetas diferenciadas. Até o século XIX, aos negros e negras eram negados empregos, cargos de responsabilidade, cargos públicos, em todas as instâncias da sociedade, também na Igreja. Estes sinais se prolongaram ao longo do tempo.

Eclesialmente falando, basta olhar para o episcopado brasileiro, hoje com mais de 485 bispos, se for contabilizar os bispos negros, somos poucos, chegando mais ou menos a 40 bispos. Contudo, como Igreja em comunhão, lutamos contra todo tipo de discriminação. Na CNBB, existe a Pastoral Afro, é uma pastoral social, que luta pela organização das iniciativas dos negros e negras católicos (as) na Igreja, e que tem uma proposta atualizada na luta pela valorização da cultura, ancestralidade e identidade dos afro-brasileiros, na luta contra a desigualdade racial, na sensibilidade da comunidade de fé sobre as questões afro-brasileiras, na motivação para se criar grupos negros católicos, e muito mais.

O Pastoral Afro, com suas iniciativas, fortalece a caminhada de fé. Celebrar o 20 de novembro na ótica da fé e da resistência, se torna um grande enriquecimento para Igreja.

20 de novembro, já era feriado em seis Estados, desde 2011, e no final de 2023, através da Lei 14.759, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou o Dia da Consciência Negra, um feriado nacional.

Este acontecimento é um reconhecimento importante, porém, muitos passos ainda devemos dar rumo à igualdade racial, entre eles, políticas de inclusão e igualdade de oportunidades, combate ao racismo e violência policial, combate à discriminação e impunidade, reconhecimento e proteção dos territórios quilombolas, e em muitos outros aspectos que precisamos avançar. É hora de fazer valer a luta que Zumbi deixou para prosseguir.

 

+José Altevir da Silva, CSSp

Prelazia de Tefé – AM

20 de novembro de 2024

www.prelaziadetefe.org.br

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